quinta-feira, 1 de julho de 2010

O CRISTÃO VIVENDO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

É comum hoje no Brasil ouvirmos evangélicos dizendo, orgulhosos, que a população evangélica ou protestante do país está na faixa de 25% da população. As comunidades e igrejas neo-pentecostais encabeçam as listas dos grupos que mais cresceram.
Mas, ao analisarmos o sentido do termo “evangélico”, percebemos um imenso abismo entre o sentido verdadeiro da expressão e das pessoas ditas evangélicas.

Nesse grande grupo, que denominou-se evangélico ao responder à pesquisa, estão milhares de pessoas que nunca sequer estudou de forma profunda (muito menos segue) os ensinos de Cristo, o Mestre dos cristãos.
Para se ter uma idéia, encontramos líderes religiosos com uma cruz no peito, dizendo serem dos mais fiéis seguidores do Mestre, ao passo que são flagrados em crimes como pedofilia, abuso sexual, atentado violento ao pudor, crimes decorridos por embriaguez, etc.

Encontramos “protestantes” que colocam copo d’água em cima da TV para bebê-la quando ela for abençoada pelo apresentador. Encontramos pessoas que juntam-se aos milhares para fazerem uma marcha que denomina-se ser de Jesus, mas que na verdade é meio que seus líderes usam para mostrar força política.

A grande pergunta é: No Brasil há realmente 25% de evangélicos? – e se a resposta for sim, temos um grande problema:
Como explicar as atitudes dos políticos que se elegem às custas dos votos dos crentes, e se envolvem em escândalos de crimes financeiros? Como explicar a grande quantidade de crentes vendendo ou comprando produtos piratas? Como explicar a grande quantidade de crentes que não conhecem e nem lêem a Bíblia? Que não têm compromisso verdadeiro algum com o Cristo verdadeiro e nem com Sua igreja? Como explicar um “cristão” ver algum dinheiro caindo da bolsa de alguém que passa, e sorrateiramente apanha aquele dinheiro, esconde, e depois ainda acha que Deus o abençoou fazendo-o estar “na hora certa e no lugar certo” para encontrar aquele dinheiro?
A resposta é simples: Isso não se explica! Não se justifica!
Não temos 25% de evangélicos em nossa sociedade!
Conhecimento bíblico, oração, boa teologia, vida piedosa, compromisso com Deus (e não somente com Suas bênçãos) são coisas que a maioria desses 25% desconhece quase que totalmente. Infelizmente, essa é a realidade. Não conhecem nada de Bíblia, nem de compromisso com Deus. Quando conhecem alguma coisa, é somente algumas histórias de lutas e vitórias, geralmente do Antigo Testamento, que ainda por cima ouviram com uma interpretação e aplicação totalmente errada. Gente do tipo que briga com católico só porque o outro é católico. Que briga com o espírita só porque ele é espírita. Que briga com o outro crente só porque ele não é da mesma denominação, e na verdade, não sabem nem por que estão brigando.
Há poucos meses, o Brasil inteiro viu mais um vídeo em que um líder de uma denominação chamada evangélica ensina aos seus subalternos como arrancar dinheiro dos seus ouvintes. Acho que fatos como: mala cheia de dinheiro, cueca cheia de dinheiro, oração de gratidão por dinheiro ilegal, e todo tipo de escândalo ao verdadeiro evangelho, já se tornaram tão comum que a população começou a assimilar e se conformar com essas práticas. Os que não se conformam, juntam no mesmo pacote, todas as denominações: as “evangélicas” e as Evangélicas.

A Deputada Cidinha Campos[1], parlamentar carioca, em um famoso vídeo na internet, diz que “não tem mais jeito, porque a corrupção nesse país está no DNA das pessoas”. [2] Ela dá uma lição de ética, de seriedade, de revolta contra a corrupção. E oxalá tivéssemos evangélicos sérios, servos tementes de Deus, representantes do povo no contexto político de nosso país.
Mas, se a deputada está certa, como fica a situação dos 25% de evangélicos? Será que ela se refere a um determinismo cultural? Acho que sim. Mas talvez essa maneira de viver do brasileiro (que para tudo dá um jeitinho, na base da malandragem) não seja uma espécie de voluntarismo, pois aí, o indivíduo não seria culpado de suas atitudes erradas, mas a sociedade que o formou. E nós sabemos que a causa original dessa corrupção está na Queda, porta de entrada da corrupção no gênero humano. Mas os sociólogos e antropólogos não encontrarão essa resposta, visto não cogitarem assunto teológico na análise do ambiente social.

Portanto, o crente sabendo disto, deve viver de forma que denuncie o pecado, a corrupção, o crime, as injustiças, a falta de ética, e não somente as heresias ou deturpação das Escrituras Sagradas.
Acho que boa parte dessa confusão se dá pela cosmovisão errada que a maior parte desses 25% têm. Cosmovisão não é apenas um conjunto de crenças, mas também um conjunto de pressupostos que mantemos e que influenciam nosso conhecimento e atitudes. E isso não é voluntarismo. Acontece que os pressupostos de muitos crentes estão baseados em prosperidade, em só bênçãos.
Aí, deve entrar o trabalho da igreja. Começando pela sua comunidade local, e abrangendo, conseqüentemente a sociedade toda.
René Padilla, cita McLaren que diz que “precisamos equipar e mobilizar homens e mulheres para a missão de Deus em todos os campos de ação humanas: em casa, na empresa, no hospital, na universidade, no escritório, na oficina, etc.”
[3]
De fato, precisamos fazer isso em todas as áreas, em todo lugar. Até para que os cristãos consigam entender e responder aos novos desafios e interrogações que surgem da situação do mundo contemporâneo.
Os evangélicos passaram muito tempo ensinando coisas simples demais. Coisas do tipo: “Quanto livros há no AT e NT, qual o maior e menor livro, capítulo e versículo da Bíblia”, etc. Todos esses ensinos são valiosos, mas podem ser feitos com tempo e ênfase menor.
Não se vê a igreja falando sobre ética, sobre moral, sobre vida piedosa de forma geral e específica. O quê se tem são mensagens moralistas, que só surtem efeito momentâneo, e somente sob constante vigilância do líder religioso. Mas distante de suas vistas, longe da igreja, o “fiel” não quer saber de agradar a Deus coisa nenhuma. O lema é “esperto é quem engana, idiota é quem não rouba”.

A grande maioria dos evangélicos tem concentrado seus esforços na evangelização. As vezes essa tem sido a principal (as vezes única) preocupação. E nem sempre vêem a relação que há entre o amor a Deus e o amor ao próximo, entre a fé e as obras, entre a justificação em Cristo e a justiça social.
Fala-se muito no texto da Grande Comissão de Mt.28:16-20, com ênfase no mandato evangelístico, onde a preocupação central da igreja deve ser a conversão de indivíduos e a plantação de novas igrejas. Mas a grande comissão é mais do que isso. É um chamado que Jesus faz à igreja para que ela se dedique a formar homens e mulheres. Geralmente, só lêem o “pregai o evangelho”, e não focam no “fazei discípulos”, e muito menos no “ensinando-os a guardar tudo aquilo que vos tenho ensinado”.

Entendo que essa “formação” de homens e mulheres a que René Padilla citando McLaren, se refere, é tarefa da igreja. Não podemos esperar que os nossos filhos aprendam ética, moral, piedade na escola. Hoje a situação está de um jeito que precisamos instruí-los nessas coisas em casa, para que sobrevivam à escola, à faculdade, à influência e apelos da mídia.
Muitos de nossos jovens sofrem verdadeiros bombardeios na mente quando começam a freqüentar uma universidade. [Há os professores-lobos que se aproveitam da condição de mestres, e do impacto do academicismo nos nossos jovens calouros. Eles mesmos se encarregam de, como primeira missão, provar que Deus não existe. E depois que conseguem plantar esse semente de dúvida na cabeça de nossos jovens, o resto é fácil de disseminar: "A igreja só oprime, o homem é livre, dízimo é para o pastor ladrão, sexo é bom e ninguém deveria impedir, etc." E assim, se nossos jovens não estiverem alicerçados, com boa base dada pela família cristã e pela igreja, eles tornar-se-ão presas fáceis.] (texto também contido em outro artido desse blogg)
Padilla diz que esse “...fazei discípulos... ensinado-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” é uma convocação para a igreja participar na formação de cidadãos.
[4]

Com isso em mente, precisamos entender que a participação do cristão na sociedade deve se dar de forma efetiva e eficaz, em todas as áreas dela.
O evangelho que transmitimos deve influenciar ao homem em sua totalidade, e não somente as áreas espirituais, ou só físicas.
Há um hino de um pastor presbiteriano chamado João Dias de Oliveira
[5] que diz exatamente isso:
Que estou fazendo se sou cristão? Se Cristo deu-me o Seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão. Há muitas vidas sem salvação.
Meu Cristo veio pra nos remir: o homem todo, sem dividir.
Não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar.

Há muita fome no meu país, há tanta gente que é infeliz!
Há crianças que vão morrer, há tantos velhos a padecer!
Milhões não sabem como escrever, milhões de olhos não sabem ler,
Nas trevas vivem sem perceber que são escravos de outro ser.

Que estou fazendo se sou cristão? Se Cristo deu-me total perdão!
Há muitos pobres sem lar, sem pão. Há muitas vidas sem salvação.
Aos poderosos eu vou pregar, aos homens ricos vou proclamar.
Que a injustiça é contra Deus, e a vil miséria insulta os céus
."
[6]

Certa vez, o autor, Rev. João Dias, contou-me a história desse hino. Interessante que na época, ele foi muito execrado, porque disseram que era música de esquerda, de comunista, e não de evangélico. E creio que ainda hoje, muitos crentes vivem em extremos: enquanto alguns acham que ação social é a principal ou única tarefa da igreja (como os da teologia da libertação), outros acham que isso é tarefa que compete só ao Estado.
Creio que devemos encontrar a associação dessas duas idéias, porque elas trabalham juntas. Enquanto trabalhamos pela divulgação do evangelho, trabalhemos pela transformação do cidadão. Há vários textos bíblicos que mostram a responsabilidade social do servo de Deus com relação à sociedade em que vive, seja ela qual for.
Nós não encontramos ordens diretas e específicas de Cristo acerca do crente na sociedade, mas, mesmo que Cristo não tenha deixado um programa especificamente político e social, Ele deixou muitos princípios que norteiam essas áreas. Dentre eles, podemos citar, por exemplo:
Que a vida do homem não consiste somente na satisfação de suas necessidades biológicas, mas também em realizar em si o propósito divino (João 4:34);
O ser humano deve ter valor na sociedade, e os relacionamentos devem ser fraternos e solidários, e devem ultrapassar as barreiras de raça, nação ou classe social (Lucas 10:30-37);
No Novo Testamento encontramos um caso interessante, onde a vida social dos crentes era uma vida de cooperação em vez de conflito, e o lucro dava lugar ao serviço e bem-estar comum da comunidade (Atos 2:45). O exemplo apostólico de vida compartilhada também é um modelo para os socialistas.

Mas ainda há igrejas que temem fazer algum tipo de ação social. Já vi gente dizendo que, sempre que a igreja se envolve em questões sociais, sofre muito. Acho que isso é o ponto. Na verdade, os crentes esquecem que Cristo disse que esse é um mundo de aflições. Então, não podemos fugir do sofrimento. E quando fugimos de certos trabalhos para evitamos o sofrimento, em detrimento da obra que a igreja deve fazer na sociedade, estamos nos colocando acima do Senhor Jesus.
O puritano Robert Murray McCheyne diz que “se nós queremos seguir o Senhor plenamente, temos que enfrentar bons e maus rumores. Devemos suportar o Seu vitupério”. [7]

Devemos entender que a igreja precisa trabalhar nessa formação de cidadãos. Deve se preocupar nessa formação de homens e mulheres na sociedade por causa da corrupção do pecado. Sem ela (corrupção), não seria necessário esse tipo de trabalho pela igreja.
Sabemos que, quando Deus criou todas as coisas, era tudo muito bom. Mas sempre ouço perguntas do tipo: [ “Se Deus é bom, por que existe a fome, guerra, etc?”. Outros até usam isso como desculpa para dizerem não acreditar em Deus. Nessas horas eu sempre me lembro do nordeste, região onde nasci, onde os políticos dizem que é um lugar seco porque é a vontade de Deus, ou que não choveu porque São José não quis, ou que o pobre lavrador está passando fome por falta de chuva... Mas se você for nas terras deles (no mesmo sertão) vai encontrar tudo verdinho. ]
[8]
Doutra sorte, em abundância de chuva, o povo também sofre porque as cidades não estão estruturadas para suportar chuvas. E mais uma vez ouvimos os políticos colocaram a culpa em Deus. [ Mas isso é em todas as áreas: social, política, religiosa. Os verdadeiros culpados estão sempre procurando culpar Deus. Efésios 4:17-19 nos fala de homens que
“...andam na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.” - São pessoas assim que prejudicam o seu próximo, e culpam Deus.] [9]

Mas, alguém poderia perguntar: Quem está controlando as coisas na terra, hoje em dia, Deus ou o diabo?
De fato, Deus é soberano sobre tudo e sobre todos. A. W. Pink, em seu livro “Deus é Soberano”, diz: “A soberania do Deus das Escrituras é absoluta, irresistível, infinita.”
[10]
Pink continua dizendo:
Como o Deus da Bíblia é diferente do Deus da cristandade moderna! O conceito de deidade que predomina hoje em dia, mesmo entre os que professam crer nas Escrituras, é uma deplorável caricatura, uma burlesca imitação da verdade. O Deus do século XX é um ser enfraquecido e incapaz, que não infunde respeito a qualquer pessoa que realmente pensa. O Deus que as pessoas concebem em suas mentes é a invenção de um sentimentalismo banal. O Deus de muitos púlpitos dos nossos dias é objeto que inspira mais pena do que reverente temor.”
[11]

E embora Deus seja soberano, o fato é que as misérias do mundo não são culpas do Criador, que fez tudo muito bom.
Antes da Queda, o coração humano era qualificado pelo ser-para-Deus em amor e obediência, após a queda o coração passou a ser qualificado pelo ser-para-um-ídolo em apostasia e rebelião. Sendo assim, todos os atos internos e externos estão corrompidos. Então, quer pelo voluntarismo ou não, não se pode tirar a responsabilidade do homem. Aliás, a soberania de Deus e a responsabilidade humana é um assunto muito discutido pelos homens. J. I. Packer diz que isso se trata de um antinômio:
“[antinômio] não se trata de uma contradição real, embora assim pareça. Trata-se, antes, de uma aparente incompatibilidade entre duas verdades evidentes. Um antinômio existe quando dois princípios, postos lado a lado, aparentemente são irreconciliáveis, ainda que ambos sejam inegáveis.”
[12]

O processo do homem tentando se emancipar em relação a Deus e Sua palavra, se intensificou muito na Modernidade, embora o homem venha tentando isso durante todo o decorrer da história. O homem moderno cria firmemente que o conhecimento científico, tecnológico e econômico acarretaria num progresso tão grande que acabaria com todo o mal do mundo, como guerras, fome, doenças, etc. Na busca pela solução desses problemas sociais, várias propostas surgiram: Saint Simon defendia que o industrialismo traria prosperidade, August Comte achava que a sociedade precisava do Estado para dar ordem, Emilé Durkheim achava que a educação resolveria os problemas da sociedade, enquanto que Marx e Hegel acharam que só o socialismo (a eliminação das diferenças sociais) resolveria de vez os velhos problemas de sempre da sociedade.

Em meio às buscas das respostas para as crises das sociedades, o homem virou o centro e medida de todas as coisas, e a razão passou a ser o ponto de partida para tudo. Nesse período, a confiança na razão foi tão intensa que, no século XVIII, no Iluminismo, durante a Revolução Francesa, a razão foi até idolatrada. Foi proposto um culto à razão, na intenção da substituição do cristianismo. Nesse período, a emancipação do homem moderno em relação à Deus e Sua palavra, gerou uma divisão entre o que era religioso e o que era secular.
Sobre esse período, Felipe F. Armesto relata que
“...haviam coisas que deveriam ser mantidas na esfera particular do indivíduo, tais como fé, Teologia, Igreja, vida cristã, Educação Religiosa, Ministério Eclesiástico, etc; enquanto que coisas como natureza, razão, Filosofia e Ciência, Estado, trabalho, conduta pública, etc, deveriam ser mantidas na esfera pública.”
[13]
Acho que essa dicotomia existe até hoje. Inclusive muitos crentes fazem essa divisão.

Depois da Modernidade, vem a Pós-Modernidade, que é o período de desilusão. A Pós-Modernidade não acredita mais que a razão, a ciência, a política e a economia irão resolver os problemas da humanidade. Alguns acontecimentos históricos trágicos do século XX, como as duas grandes Guerras Mundiais, a Guerra Fria, a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnã, o alastramento da miséria, das doenças e da fome no mundo, etc, levou o homem pós-moderno a desacreditar das suas teorias de soluções para os problemas das sociedades. A fé na autonomia do homem, no progresso, na capacidade racional e no avanço da ciência e tecnologia não acabou com as guerras, miséria, fome e epidemias... Ao contrário, só as fez aumentar.

Para o homem pós-moderno, o futuro do mundo é uma verdadeira incerteza, e isso o faz se apegar somente ao presente, buscando a satisfação de seus desejos e prazeres.
Rev. Fabiano Almeida diz que “O homem pós-moderno é um cético que desistiu de conhecer a verdade absoluta e estável.”
[14]
Essa desistência só acontece porque não se pode conhecer a verdade sem Deus. A revolução francesa provou isso. É impossível que a verdade seja compreensível sem que haja um reconhecimento de Deus como o ponto de partida. Acho que esse é o gancho que o cristão deve usar na proclamação do evangelho na sociedade pós-moderna.

O envolvimento do cristão na cultura em que vive, seja ela qual for, sem se contaminar, é um tremendo desafio. O crente deve adotar uma atitude crítica biblicamente orientada.
A alienação não é um bom caminho para o crente, pois ao se alienar, o crente estará afirmando que não existe nada de verdadeiro e bom nas produções culturais humanas por causa da queda.
A secularização também não é um bom caminho para o crente, pois não se pode subestimar os efeitos da queda na cultura humana, porque senão, acabaremos nos envolvendo demais com a cultura sem refletirmos criticamente se elas estão ou não de acordo com os parâmetros estabelecidos por Deus.
Cristo, na oração sacerdotal (Mt.5:13-16 e Jo.17:14-18), disse que, embora não sejamos do mundo, sua vontade é que permaneçamos no mundo, sendo agentes de transformação do mundo.
Então, a posição correta do cristão seria assumir uma atitude crítica, biblicamente orientada, pois isso é indispensável para ele poder discernir os momentos de verdade e os momentos de emancipação pecaminosa que possam estar presentes na sociedade pós-moderna.
Ele deve entender que o chamado para desenvolvermos cultura é algo que procede de Deus; e que desde o princípio Deus tem vocacionado o homem ao Mandato Cultural (contrariando o Horton rrsss)
[15].
Então, o cristão não deve rejeitar precipitadamente tudo da pós-modernidade, mas também não deve aceitá-la de maneira acrítica, mas deve ser criterioso em tudo. Deve tentar discernir aquilo que é estrutural daquilo que é resultado da direção pecaminosa do coração humano, e assim, como cristão auto-consciente e responsável, se envolver ativamente no cumprimento do “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”, sendo um agente de Redenção para as pessoas e para a cultura do contexto em que vive.
É preciso dizer ainda que o cristão não deve tomar o outro extremo, como por exemplo o da “Igreja Emergente”, que procura mostrar o cristianismo "mais apropriado" à uma cultura pós-moderna. Os cristãos emergentes procuram adaptar a fé cristã, a estrutura da igreja, a linguagem da fé e até a mensagem do evangelho às idéias pós-modernistas. Mas o fim não justifica os meios, e há coisas que são inegociáveis.
Concluindo, devo ressaltar que não estou meramente defendendo que o trabalho cristão de “reconciliação” (do início do artigo) com o homem é reconciliação com Deus, nem que a ação social é evangelização, nem que a libertação política é salvação. Estou afirmando que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor pelo próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo.
A mensagem de salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam.
Portanto, nós, cristãos reformados, não podemos deixar a sociedade à mercê de tão fracas teologias que estão sendo oferecidas às sociedades. Quando movimentos denominados religiosos proclamam que têm como suas metas o enriquecimento material, o bem-estar corporal e a gratificação física, já se sabe que algum tipo de sincretismo religioso com tendências seculares está acontecendo.
Alguém pode pensar que esse artigo é de gente do tipo que prega a separação. Então, aproveito para dizer que essa desculpa de "desunião" é um mantra que já foi muito repetido, já está manjado. Coisas como essas que temos visto os "25%" de evangélicos fazerem nada têm a ver com doutrinas, tradições ou formas de louvor.
Os “evangelhos” tipo “enriqueça, sinta-se bem, goze à vontade” são próprios da pós-modernidade, e nada têm a ver com o verdadeiro Evangelho, nem com a respeitável tradição da Reforma. Ao contrário, são sinais de que a primeira Reforma acabou, e que estamos precisando de outra.
Deus os abençoe!
Arleilson Albino

NOTAS:
[1] Maria Aparecida Campos Straus, conhecida como Cidinha Campos, é uma jornalista, radialista, política brasileira (RJ), filiada ao PDT desde 1990. FONTE: http://www.alerj.rj.gov.br
[2] CAMPOS, Cidinha. Os que mamam. Disponível em:
http://www.cidinhacampos.com.br/0,VID340-142,00.html, em: 24 junho 2010.
[3] PADILLA, René. Que é Missão Integral. Ultimato, Viçosa-MG, 2009. p19.
[4] PADILLA, René. Que é Missão Integral. Ultimato, Viçosa-MG, 2009. p34.
[5] Rev. João Dias de Oliveira, hoje ministro da IP Unida, em Feira de Santana-BA.
[6] Texto extraído do Hinário Para o Culto Cristão, música 552. Letra: João Dias de Araújo. Música: Décio Emerique Lauretti. Disponível também em: http://www.ultimato.com.br/?pg=show_artigos&artigo=1076&secMestre=1138&sec=1139&num_edicao=298
[7] McCheyne, Robert Murray. Sermões. Publicações Evangélicas Selecionadas. São Paulo-Sp. 2005. p200
[8] ALBINO Arleilson. Parte do texto “Quem é o culpado?”, disponível em: http://arleilsonalbino.blogspot.com/2010/05/oracao-pelo-povo.html
[9] ALBINO Arleilson. Parte do texto “Quem é o culpado?”, disponível em: http://arleilsonalbino.blogspot.com/2010/05/oracao-pelo-povo.html
[10] PINK, W. A. A Soberania de Deus. FIEL, São José dos Campos-SP, 2008. p21
[11] PINK, W. A. A Soberania de Deus. FIEL, São José dos Campos-SP, 2008. p21
[12] PACKER, J. I. A evangelização e a soberania de Deus. Cultura Cristã. São Paulo-SP, 2002.p15-16
[13] ARMESTO, Felipe Fernández, WILSON, Derek. Reforma, o cristianismo e o mundo 1500-2000. Record. Rio de Janeiro, 1997. p397.
[14] OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Apostila Cosmovisão Cristã. São Paulo-SP, 2009. p.39
[15] Michael Horton, em palestra no Mackenzie, em 2010, afirmou não existir mais o mandato cultural.
BIBLIOGRAFIA:
ARMESTO, Felipe Fernández, WILSON, Derek. Reforma, o cristianismo e o mundo 1500-2000. Record. Rio de Janeiro, 1997. 416p.
LADEIA, Donizeti. Apostila Breve introdução à Sociologia. São Paulo, 2010. 16p.
LADEIA, Donizeti. Arquivo Sociologia: Iluminismo, slides 10-12. São Paulo, 2008. 16 slides, color.
MACARTHUR, John. Guerra pela Verdade. FIEL. São José dos Campos, 2010. 262p.
MACARTHUR, John. Sociedade sem Pecado. Cultura Cristã. São Paulo, 2002. 254p.
MCCHEYNE, Robert Murray. Sermões. PES. São Paulo-Sp, 2005. 280p.
MCGRAHT, Alister. Apologética Cristã no Século XXI. VIDA. São Paulo, 2008. 364p.
OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Apostila Cosmovisão Cristã. São Paulo-SP, 2009. 47p
PACKER, J. I.. A Evangelização e a Soberania de Deus. Cultura Cristã. São Paulo, 2002.112p.
PADILLA, René. Que é Missão Integral. Ultimato, Viçosa-MG, 2009. 133p.
PINK, A. W. Deus é soberano. Fiel, São José dos Campos-SP, 2008.183pREIS, Gildásio. Apostila Teologia de Missões I. São Paulo-SP, 2009. 73p

1 comentários:

Luciana Ramos disse...

Pr. Arleilson seu blog me foi muito caro. Parabéns, que Deus continue a lhe inspirar mais e mais para nossa edificação e para a glória dEle mesmo!

27 de outubro de 2012 às 22:15

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