quarta-feira, 5 de maio de 2010

NÃO TERÁS OUTROS DEUSES...


Em Êxodo 20:1-3, lemos: "Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim."

Irmãos, no meio evangélico há alguns assuntos que de tempos em tempos despertam uma grande atenção no povo crente. E quando algum assunto está no auge, vamos dizer assim, é como se ele virasse o único assunto importante e interessante.
A comunidade evangélica se alvoroça ao redor de "temas do momento". Esse assunto passa a ser o tema das rodinhas de debate bíblico, de mensagens; Torna-se uma espécie de ponto de referência dos pensadores, escritores, formadores de opinião, etc; todos têm que dominar o tema e fazer alusão a ele; Tornam-se uma espécie de upgrade, que a pessoa precisa aprender a dominar, se deseja ser bem vista, ou se quiser parecer bem-informada. Em caso contrário, como dizem os colunistas sociais, a pessoa será out. (Para ser in, precisa dominar aquele tópico do momento).
Eu lembro que, no fim da década de 80, início de 90, a discussão maior era a contextualização do evangelho para alcançar um número maior de pessoas. Surgiram livros, mensagens, músicas, congressos foram feitos... Em meados dos anos 90 o assunto era missões (janela 10/40, etc); No fim dos anos 90, início do ano 2000, a discussão maior era sobre a igreja. Escreveram livros sobre isso: A igreja, sua missão, sua própria essência, sua liturgia, tudo isso foi motivo de discussão. Apareceram congressos apresentando novos modelos eclesiásticos, muitos deles importados e fora de nosso contexto, como o G12, etc, como sendo a única alternativa bíblica... Parece que só agora, depois de 20 séculos é que descobriram como é uma igreja, e que todos os crentes do passado só fizeram coisas erradas!
Mas em contraste a esses temas que vêm e vão, há assuntos que muitas vezes não estão na moda, mas que mantêm uma regularidade no interesse das pessoas. O Espírito Santo, por exemplo, não se tornou um assunto restrito à uma década, mas é objeto de considerações e reflexões há tempos. Da mesma forma sucede com os 10 Mandamentos...
Vejam, eu não estou aqui querendo fazer uma escala de comparações do que é mais ou menos importante. Não é esta a questão, pois há assuntos que conseguem manter uma relevância dentro do movimento evangélico, que o tempo não apaga. Que têm um valor constante. Assim acontece com os 10 Mandamentos: Muito se tem dito sobre os 10 Mandamentos, sem se conseguir esgotar o assunto. Aliás, jamais alguém fará isso com qualquer tema da Palavra de Deus (que é inesgotável). Desta maneira, nossa palavra aqui não tem a pretensão de esgotar a questão, ou de ser a última palavra sobre o assunto.
Mas faço isso com muito temor e tremor, pois como diz D. A. Carson: “...ao falar sobre leis, duas coisas devem ser evitadas: de um lado a banalidade, e de outro lado, a complexidade.” - Esta é a nossa proposta nesta palavra. Por isso, começo com o pano de fundo cultural e com o caráter de Deus, e não pelo mandamento em si.
É preciso saber primeiro o porquê de ter sido dado e quem o deu, porque depois vai ser mais fácil analisar o seu conteúdo.Então, propositalmente, quero gastar um tempinho no contexto, porque para compreendermos o mandamento em seu significado, precisamos analisá-lo dentro do seu contexto histórico, cultural e literário. Não dá pra fazer como muitos: aplicar as palavras daquela época à nossa, sem buscar entender seu pano de fundo, o porquê de terem sido ditas, o que elas queriam dizer naquele momento e qual o princípio que fica para nós.
Quando estudamos o AT, temos que interpretá-lo à luz do NT, que é a revelação final de Deus. Não podemos aplicar o AT à nossa vida, mas examiná-lo à luz do NT e descobrir o que ele traz de princípios pra nós.
CONTEXTO:
Do cap. 19-23, temos, no livro de Êxodo, o que se chama de “O livro da aliança”. Sabemos que o termo hebraico é berith, e seu significado é muito rico. Alguns usam o termo “concerto”, mas eu opto pelo termo “aliança” por ser um termo mais comum na linguagem dos teólogos do AT que temos estudado (Kaiser, Von Rad, etc).
Weinfeld, no “Dicionário Teológico do AT”, faz uma citação do termo berith: “O sentido original do hebraico berith, não é um acordo ou um estabelecimento entre duas partes, como costumeiramente se declara. Berith implica primeiro e acima de tudo a noção de “imposição”, “sujeição” ou “obrigação”."

Mas os Mandamentos não surgem num contexto de opressão divina, como alguns querem sugerir. Os mandamentos surgem num contexto de amor do Senhor, de uma aliança pela qual YHWH se compromete a tomar o povo como Seu, dentre todos os povos da terra... E o povo concorda: “Tudo o que o Senhor tem falado, faremos” (Êx.19:8). Só depois desta disposição do povo, que foi relatada por Moisés ao Senhor, é que os mandamentos vieram. Surgiram depois de uma consciente disposição de pactuar com Deus. Não foi uma imposição autoritária, mas foi produto de uma aliança aceita alegre e voluntariamente. Por tudo aquilo que Deus fez a Israel, por tê-lo escolhido como Seu povo, Deus lhe impõe leis. Não competia a Israel apresentar seus termos, como se estivesse travando um diálogo com Deus, ou, como se sua opinião pudesse mudar algum termo dessa aliança. Deus não mudaria sua proposta se Israel discordasse de algum tópico. A Israel cabia aceitar ou rejeitar, mas nunca argumentar ou tentar mudar os termos.

Mas, qual a finalidade de se falar nos Mandamentos, em pleno século XXI?
Nós ainda precisamos analisar os Mandamentos para ver o que eles nos dizem a nós, Igreja de Jesus Cristo. Marinho Lutero disse que “Aquele que conhece os 10 Mandamentos conhece perfeitamente as Escrituras.” Jesus os pregou ao moço rico, inclusive com uma declaração bem séria que muita gente não dá atenção: “Bom só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.” E quando o jovem perguntou quais, Jesus respondeu citando 4 dos mandamentos horizontais... Por certo que eles têm valor para nós, hoje.

Mas... Lei? Moral? Temos que concordar com o Rev. Mauro Meister: esses termos estão se tornando cada vez mais estranhos na sociedade pós-moderna. Muitos estão apregoando que o ser humano é amoral, e que sua moralidade é fruto do processo evolutivo, então moral é relativa. Esse tipo de pensamento está levando a sociedade à uma vida totalmente imoral.
A Era da Razão exaltou a humanidade , mas ainda admitia Deus como um tipo de rei filósofo... Já o século XXI humanista tenta destituir Deus... A razão e a ciência estão sendo colocadas como opostas à religião. Ernest Kevan disse: “A falta de preocupação com a Lei Moral deve-se à secularização da sociedade, que tem buscado destruir os padrões éticos.”Mas nós sabemos que isso é se deve ao pecado: o homem entrou em um estado em que nega a sua origem moral, opondo-se aos ensinos e à vontade de Deus! As Escrituras nos ensinam que Deus é eterno e moral, e assim Ele criou o homem, com uma alma eterna e com uma consciência moral.

O que vejo neste 1º mandamento é o Senhor chamar ao Seu povo a considerar que Ele mesmo os havia libertado da escravidão; Portanto, a adoração de outro deus que não fosse o Deus libertador seria uma demonstração de ingratidão, uma incoerência, pois se atribuiria a outro aquelas coisas que são somente devidas à Ele. Por isso, quero meditar com os irmãos na seguinte afirmação: “O Senhor é o Deus Único e Verdadeiro, que salva, e exige exclusividade na adoração”

Praticamente, toda vez que o assunto sobre a Lei é mencionado, alguém diz: “Não estamos mais debaixo da Lei! Não é legalismo querer obedecê-la?”
De fato, não estamos sob a lei civil de Israel, mas sob o período da Graça de Deus. Não estamos sob a lei religiosa de Israel. Ela apontava para o Messias. E ela já foi cumprida em Cristo. Hoje temos acesso direto ao trono, sem a mediação dos sacerdotes. Não estamos sob a condenação da lei moral de Deus, porque fomos resgatados pelo sangue de Cristo. Não estamos sob a lei, mas sob a graça de Deus
Entretanto, estamos sob a lei moral de Deus, porque essa lei moral ainda representa nossos deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso semelhante. Estamos sob a lei moral de Deus, no sentido de que ela é o caminho dado por Deus no processo de santificação, que é efetivado em nós pelo Espírito Santo. (Jo.14:15) A validade dos mandamentos é eterna e seus preceitos são perfeitos, por isso exigem a perfeição no cumprimento deles. E somente Cristo foi capaz de cumprir a lei desta forma, com perfeição.

Esta é a questão: como esse 1º Mandamento, “Não terás outros deuses diante de mim, nos orienta em nosso relacionamento com Deus e com o próximo? Por que esse mandamento, especificamente, foi posto como o 1º dos 10 Mandamentos? Porque esse mandamento é o fundamento do qual os outros mandamentos dependem. Ele é importante porque é impossível obedecer a qualquer um dos outros 9 mandamentos se não obedecermos a este. Você pode pensar que essa é uma afirmação radical, mas pense comigo:
a) “Honra teu pai e tua mãe....” Não é porque os filhos escolhem outros deuses, como: amigos, amor às coisas do mundo, que deixam de honrar pai e mãe?
b) “Não matarás...” Sempre que alguém tira a vida de outra pessoa, não está dizendo: “Eu sou Deus. Eu posso decidir quem vai viver e quem vai morrer.”?
Então, “não ter outros deuses” é o foco central do qual depende toda a nossa obediência.

O Catecismo Maior diz que nós devemos considerar 3 coisas nesse mandamento: o prefácio, a substância dos mandamentos em si mesmos, e as várias razões anexadas a ele. E no prefácio do mandamento encontramos a seguinte afirmação:

I. YHWH É O DEUS ÚNICO E VERDADEIRO
Isso está na frase: “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus...”
Estas palavras solenes estão repletas de sentido, e merecem nossa atenção. É um prefácio curto, uma apresentação simples, mas muito profunda: “Eu sou YHWH teu Deus”.
O registro que a Bíblia faz sobre o autor desse mandamento, é que DEUS o pronunciou. Esta apresentação divina não está aí à toa, pelo contrário, ela foi planejada por Deus.
Por que esse prefácio é tão importante?
Porque ele é parte integral dos 10 Mandamentos. Ele é o alicerce do mandamento. O prefácio dá a razão por que eu tenho a obrigação de obedecer ao mandamento. O triste é que se ensinam os 10 Mandamentos às crianças, e quase sempre, omitem o prefácio, como se ele não fosse importante. E isso faz toda a diferença! Por boa parte da vida elas ficarão confusas com respeito ao papel das Leis do AT. Isso aconteceu comigo. Os 10 Mandamentos, em particular, para mim eram como as outras histórias do AT. Sim, estavam lá. Pareciam ser importantes. Eu prensava que devia obedecê-los. Mas, honestamente, eu jamais pensei seriamente a respeito deles. Afinal de contas, achamos que não são assim tão importantes. Fomos ensinados que não estamos mais embaixo da lei, então, por que me preocupar?
Sabemos que nossa salvação é exclusivamente pela Graça, que não precisamos obedecer aos mandamentos para assegurar nossa posição diante de Deus. E assim, de maneira ambígua, nós os consideramos só da boca pra fora, e esperamos que eles permaneçam onde estão: lá na antiguidade.
O prefácio mostra a autoridade, e desconsiderá-lo é negligenciar a importância da fonte da autoridade da lei. O grande peso dos 10 Mandamentos e de toda a lei repousa sobre estas palavras: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.”

Na minha proposição e primeiro ponto eu coloquei “O Senhor é o Deus Único e Verdadeiro”... Na versão ARA, no v.2 não há as expressões “único” e “verdadeiro”, e sim a palavra SENHOR (com letras maiúsculas). Mas no original hebraico, não é exatamente a palavra SENHOR que está lá. Nós conhecemos alguns nomes de Deus, tais como “El”, “Elohim”, etc, mas eles são mais títulos do que nomes próprios. Tanto é que nenhum deles é empregado exclusivamente a Deus. “El” e “Elohim” podem ser empregados de forma genérica (deus, deuses). “Adonai” também pode ser empregado com referência a pessoas (senhor, senhores). Contudo, há um nome que pode ser considerado o nome por excelência de Deus. Usado cerca de 6.000 vezes no AT. Um nome não atribuído a nenhum outro ser. Um nome tão glorioso, santo e inefável, que sequer era pronunciado pelos judeus. É o que aparece no original hebraico: YHWH (leia-se Iavé).

Através desse nome, Deus se revela ao Seu povo:
YHWH é o primeiro... O Deus Todo-poderoso... A causa não causada de todas as coisas... Ele é o Deus o universo que transcende a criação... O Deus triúno... Único em seu ser... Subsistente em 3 pessoas... É o Deus altíssimo... Infinitamente acima da criatura em excelência, poder e glória... O soberano Senhor do universo, sob cujo domínio se encontram todas as suas criaturas... Ele também é o que é... O fiel Deus da aliança... O Deus de Israel... O Deus do seu povo escolhido... O imutável cumpridor das suas promessas... O Deus do pacto da graça...
“Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o YHWH, teu Deus...”

A segunda coisa que vemos nesse prefácio, é que
II. YHWH É O DEUS QUE SALVA
(...que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.)

Ele se apresenta como o libertador de Israel. Aquele que tirou a nação da casa da servidão. Este ato redentor faz parte de sua apresentação, estando inserido em seu “cartão de visitas”.
O Deus Libertador está mostrando que tem autoridade para o que vai dizer!
O Senhor não se apresenta, neste solene momento, como “Criador do universo”, ou “Senhor de todo o mundo”, mas como o “Libertador de Israel” do jugo estrangeiro.
É o Deus de quem Paulo pergunta: “...quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído?”. YHWH escolheu a Israel, não Israel a YHWH. Deus dá antes de pedir. Ele deu liberdade, agora pode pedir adoração.

O ato de primeiro anunciar o que fez para depois pedir algo, era o padrão dos tratados da época, quando um rei entrava em aliança com um possível vassalo, de nação mais fraca. O rei poderoso apresentava sua identidade e credenciais, dizendo quem era, o que poderia fazer pelo possível submisso, comprometia-se a defendê-lo e, então declarava sua vontade, exigindo lealdade para com ele. É o que temos aqui: YHWH declara quem é, e o que fez por Israel. Já mostrou o que pode fazer pelo povo e declara sua vontade. A diferença entre YHWH e o rei humano é que o rei declarava o que poderia fazer, YHWH já fez! Ele agiu primeiro!

Deus não apelou para Sua autoridade como Criador, mas para Sua misericórdia e bondade como protetor e libertador. Ele deveria ser obedecido por Seu povo por um sentimento de amor, não de medo!
O relacionamento do povo de Deus com o seu Senhor deve ser sempre de gratidão. É a afirmação de João: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1Jo.4:18,19)

Na base de tudo está o amor de Deus: “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava...” (Dt.7:7,8) Ele nos amou primeiro! Por isso pede amor que deve se manifestar em obediência.
Essa é a maior exigência de Deus ao Seu povo: obediência! Ela vale mais que culto: “...Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” (1Sm.15:22) Obedecer é o melhor que podemos dar a Deus, e é o que Ele pede do Seu povo!

As expressões “terra do Egito” e “casa da servidão” é uma redundância: Egito é lugar de sofrimento, de dureza, de ausência de liberdade, de morte.
Por isso o desgosto de Deus ao enviar codornizes para alimentar o povo, e eles sentiram saudades do Egito: “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos.” (Nm.11:5) Essa recordação estava distorcida! Eles não comiam de graça! Pagavam um preço muito caro por sua comida: sua liberdade. O custo era chicotadas nas costas, amassar barro com os pés, ver os filhos mortos.
APLICAÇÃO: Cuidemos nós irmãos! Porque com facilidade nós também, em muitas ocasiões, sentimos saudades do mundo, quando nos agradamos com as coisas desse mundo, e achamos que manter um compromisso com nosso Deus é um fardo pesado!

O Egito é chamado “casa da servidão” porque a terra do Egito não era apenas um lugar literal da servidão do povo de Israel, mas simboliza também a escravidão espiritual do pecado.
Cada um de nós aqui também fomos remidos de uma “casa de servidão”, muitas vezes mais poderosa e cruel do que a escravidão física do Egito antigo... porque o Senhor é o Deus que salva!
Então, vimos até aqui, que:
1. YHWH é o Deus Único e Verdadeiro...
2. YHWH é o Deus que salva...

E por último, vemos também que:
III. YHWH EXIGE EXCLUSIVIDADE NA ADORAÇÃO
(Não terás outros deuses diante de mim.)

Depois que YHWH se mostra ser aquele que tem o direito de dar ordens, a quem se deve obediência, ele faz uma determinação.
Aqui está contida a ordem que contém a afirmação mais básica da fé cristã, de acordo com os dois testamentos: o monoteísmo.
Por que a ordem “não terás outros deuses diante de mim.”? Não se deve pensar que haviam outros deuses, e que YHWH os temia... Não! A exclusividade é pedida porque só há Ele! Só Ele é Deus, e não há ninguém além dEle! Ele mesmo diz em Is.45:5: “Eu sou o SENHOR, e não há outro; além de mim não há Deus.” YHWH não teme o inexistente! Adorar qualquer outro que não seja Ele é adorar o vento!

A expressão “diante de mim” é, literalmente, “diante da minha face”, e faz alusão a um costume jurídico antigo: um homem não podia tomar uma segunda esposa enquanto a face da primeira ainda estivesse diante dele, ou seja, enquanto ela estivesse viva.
Enquanto YHWH estiver vivo, seu povo não pode tomar um segundo Deus. E Ele sempre estará vivo! Aqui está instituído o monoteísmo (a adoração a um só deus, o Deus verdadeiro!) O mandamento quer dizer que há um compromisso de fidelidade: não se pode manifestar lealdade a Ele e à outra coisa.
Foi isso que Josué, fielmente, mostrou quando disse: “...escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR!" (Js.24:14-17)
É por isso que Elias (homem que foi tomado para o Senhor), perguntou no Monte Carmelo: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o.” - E vocês conhecem o que aconteceu até o momento em que ele orou: “Ó SENHOR, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas. Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo saiba que tu, SENHOR, és Deus...”. (1Rs.18:21-37) - Mas, infelizmente, ao longo de sua história, nós sabemos que Israel caiu na idolatria. Com a separação das tribos em dois reinos, Jeroboão, rei de Israel, instituiu a idolatria, o que causou a ruína das 10 tribos, e culminou com o cativeiro. (1Rs.12:25; 2Rs.17)

Algum tempo após o Senhor ter mandado Israel para a escravidão por causa da sua idolatria, o rei Nabucodonosor ergueu uma imagem de ouro. Ele ordenou que todo o povo a adorasse quando ouvisse o som da música. Para os adoradores de ídolos, aquela imagem era apenas mais uma para sua coleção, mas para os 3 jovens hebreus que haviam sido expulsos da sua pátria como punição por sua idolatria, só o pensar em adorar o falso deus do rei era inconcebível! Parece que Sadraque, Mesaque, e Abede-nego haviam aprendido: “Não terás outros deuses diante de mim.”

E como cristãos, devemos fazer côro com Josué, Elias, Sadraque, Mesaque e Abede-nego: APENAS YHWH DEVE SER ADORADO!!!
Cremos na unicidade de Deus, mas cremos também que Ele esteve aqui neste mundo, na pessoa de Jesus Cristo. Nós vimos que o nome de Deus, YHWH, significa EU SOU. (Ele recomendou a Moisés: “Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.”) (Êx.3:14). Este era o nome divino.
No NT encontramos Jesus dizendo aos judeus que “se não crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados.” (Jo.8:24). E numa declaração que provocou um tumulto que quase termina no seu apedrejamento, Jesus disse com a maior naturalidade: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.” (Jo.8:58) Aliás, o nome de Jesus significa “EU SOU a salvação”. (Por isso o anjo do Senhor declarou a José: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.”) (Mt.1:21)

Mas para nós, cristãos evangélicos, membros professos de uma igreja, resistentes à idolatria, crentes em um só Deus, o quê este mandamento “Não terás outros deuses diante de mim.” pode nos dizer? Nós não temos dois deuses, temos um só, que se revelou em Jesus. Que lição há para nós aqui?

Irmãos, com muito freqüência, somos tentados a confiar em outros deuses...
Um deus é aquilo que se torna nossa fonte de confiança e pelo qual demonstramos zelo. Lutero declarou isso muito bem: “As pessoas confiam e se apóiam na sua grande habilidade, na sua inteligência, no seu poder, na sua misericórdia, nas suas amizades, e na sua honra também têm um deus. Mas tal deus não é o deus único e verdadeiro (...) Portanto, repito: “ter um deus” significa, numa interpretação correta, possuir algo no qual o coração confie por inteiro.”
Sim, Lutero está dizendo que seu deus é aquele a quem você serve!
Paulo, em Filipenses, nos fala de homens cujo deus é o ventre (Fp.3:19).
Há gente servindo a deuses com nomes modernos e sofisticados como o álcool, o fumo, o jogo, o sexo, as drogas, as sensações. Há membros de igrejas que são idólatras, colocando sua paixão em muitas outras coisas que não no Deus revelado na pessoa do nosso Salvador Jesus. Há os que adoram o prédio da sua igreja, e outros, a sua denominação. Há os que amam mais a organização que a Deus. Há os que adoram um clube de futebol. Não é incomum ver cristãos mais apaixonados pelo seu clube do que pelo evangelho. Conheço irmãos aqui em SP que brigam (literalmente) se alguém falar mal de seu time. A questão que fica é: Será que brigaria se ouvisse alguém afrontando seu Deus?
Há crentes que faltam cultos em suas igrejas quando eles coincidem com qualquer programação que arranjam, mesmo de última hora... E a casa do seu Deus, o Deus a quem ele prometeu servir, recebe a sobra do seu tempo...
Há um tipo de idolatria moderna, que vem fantasiada de serviço a Deus. Como uma mulher que me disse que só estava na igreja por causa do Encontro de Casais. Se acabasse o Encontro ela sairia, quem sabe, para outra igreja que tivesse o Encontro. Isso é idolatria! Porque a única razão para se estar na Igreja deve ser Jesus Cristo!

Hoje nós somos fortemente tentados a colocar esses outros deuses em primeiro lugar. Nós inventamos necessidades, que na verdade são supérfluas, e passamos a viver em função de coisas e bens. Isso porque nós vivemos numa sociedade extremamente materialista, que coloca as coisas acima da vontade de Deus. Jesus também passou por isso, quando satanás lhe prometeu a glória dos reinos do mundo. Sua resposta foi admirável: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás!” (Mt.4:9)

Evidentemente, não estamos praticando a idolatria tão grosseira. Afinal, estamos no século XXI, somos pessoas cultas, esclarecidas, e não nos ajoelhamos diante de bezerros. Professamos a fé em Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus, como único Deus.
Ainda que não nos ajoelhemos diante de imagens feitas de pedra, ou preparemos tigelas de comida para oferecer aos nossos deuses, as vezes adoramos nossos ídolos de outras formas. Este é um problema atual como o era lá no Monte Sinai. E devemos nos lembrar das palavras finais de João: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.” (1Jo.5:21) João Calvino comentou sobre isso quando escreveu que “a natureza humana é uma eterna fábrica de ídolos”. Ídolos não são apenas estátuas de pedra. Eles são os pensamentos, desejos, anseios e expectativas que passamos a cultuar em lugar do verdadeiro Deus.
Deus tem o primeiro lugar em nossa vida? Ele tem mesmo o primeiro lugar em nossa vida? Mais que o trabalho, a profissão, o status, o lazer, o sexo, o dinheiro? Você ama Cristo sobre todas as coisas? Ama-O mais que o seu carro, que a sua casa, que as suas férias?

Em Êx.20:3 somos chamados a fazer um pacto com nosso Salvador. Ele, e só Ele, deve merecer nosso culto, nossa confiança, e deve ser a paixão maior de um cristão. O Altíssimo deseja que nós O sirvamos com exclusividade porque só Ele é Deus, e Ele não quer compartilhar Sua glória com nenhum outro.
Os homens zelam por aquilo que apreciam: Quem gosta do carro, preserva-o. Quem ama sua esposa, cuida dela. Quem de fato ama o Senhor, zela por Sua santidade e exclusividade, e guarda Seus mandamentos diligentemente.
Que sejamos zelosos e diligentes para com nosso Senhor e guardemos Seus mandamentos com alegria, firmeza e satisfação.

Nós não estivemos no Egito geográfico, mas estivemos no Egito espiritual. E segundo Gl.1:13, fomos libertados do poder do pecado, tirados do domínio das trevas e transportados para o reino do Filho amado. Nós não precisamos de deuses, porque podemos confiar na suficiência de Deus. Não temos motivos para querer outros deuses ou precisar deles. Que adoremos somente o grande EU SOU! Que aqueles que crêem na suficiência de Deus possam orar com gratidão e adoração, assim como Salomão orou: “Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, em cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti;" (1Rs.8:23).
Que o Senhor nos conceda Sua graça para aceitarmos isso, e conduza nossos pensamentos e sentimentos em conformidade mais íntima com esse mandamento. E que possamos a cada dia confessarmos e divulgarmos ao mundo, que YHWH é:
a)o Deus Único e Verdadeiro...
b)o Deus que salva...
c)e que exige exclusividade na adoração.
Amém.

Para meditar: “A idolatria está por trás de todo pecado que nos derrota em nossas lutas espirituais.” (Elyse Fitzpatrick)



BIBLIOGRAFIA:
A ATUALIDADE DOS DEZ MANDAMENTOS (Isaltino G. C. Filho)
A LEI DA PERFEITA LIBERDADE (Michael Horton)
A LEI E MOISÉS e as “Haftarot”
A MENSAGEM DO AT (Mark Dever)
A SOLIDARIEDADE DA RAÇA: O HOMEM EM ADÃO E EM CRISTO (Russel P. Shedd)
CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER (Rev. Onezio Figueiredo)
CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER COMENTADO (Johannes Geerhardus Vos)
DEUSES DO CORAÇÃO (Elyse Fitzpatrick)
DICCIONARIO EXPOSITIVO DE PALABRAS DEL NUEVO TESTAMENTO (W.E. Wine)
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DA BÍBLIA
DOGMÁTICA (Emil Brunner)
EL NUEVO TESTAMENTO COMENTADO (W. Barclay)
ÉTICA DOS DEZ MANDAMENTOS (Hans Ulrich Reifler)
ÍDOLOS DO CORAÇÃO (Elyse Fitzpatrick)
INSTITUTAS (Calvino)
LEI E GRAÇA (Mauro Meister)
LOS DIEZ MANDAMIENTOS (J. Douma)
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA (J.D. Douglas)
O NOVO DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA DO NT (H. Bietenhard & F.F. Bruce)
O PAI NOSSO (Hermisten M. P. Costa)
O PENTATEUCO (Isaltino G. C. Filho)
PREGANDO CRISTO A PARTIR DO AT (Sidney Greidanus)
PRINCÍPIOS DE ADORAÇÃO CRISTÃ (Hermisten M. P. Costa)
RESUMO DO CATECISMO MAIOR (Arleilson)
SOLI DEO GLÓRIA (Paulo Anglada)
SYNONYMS OF THE OLD TESTAMENT (Robert G. Girdlestone)
TEOLOGIA DO VELHO TESTAMENTO (A. R. Crabtree)
THEOLOGICAL DICTIONARY OF THE NEW TESTAMENT (H. Bietenhard)
VOCABULÁRIO BÍBLICO (C. Biber & J.J. von Allmen)

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